A pouca idade de Rodrigo Marcante e Moisés Belé contrasta com um legado de décadas e algumas gerações. Com 25 e 20 anos, respectivamente, os dois moradores da comunidade de Baía Baixa, no interior de Ponte Serrada, pretendem manter viva a tradição das famílias ao dizer sim para a vida no interior. 2x4b5a
Ambos representam a terceira geração das suas famílias e estão decididos a continuar o trabalho nas propriedades antes tocadas pelos avós, atualmente pelos pais e, no futuro, ou melhor, já no presente, pelos próprios jovens. Rodrigo, cinco anos mais velho, cria suíno e gado de corte. O amigo Moisés também é responsável por um chiqueirão.
“Eu pensava em sair, não via a hora de terminar de estudar para ir morar na cidade. Aí a gente vai amadurecendo, vendo que a vida não é só determinadas coisas, e decidi permanecer aqui”, conta Rodrigo, que mora em uma casa junto com a esposa, com quem se casou há um ano e meio.
Moisés tenta convencer a namorada a fazer o mesmo. O jovem de 20 anos quer que Maria Eloisa Ferreira Hartcopf e a morar com ele. E como ela gosta do interior, a tendência é que isso ocorra daqui a algum tempo. “Desde pequena, eu gosto do interior, tem minhas irmãs que moram no interior, a tendência é vim morar sim aqui com ele”, comenta.
Rotina de trabalho
Vizinhos de propriedade, Rodrigo e Moisés acordam cedo para vencer o dia. Como ambos têm chiqueirões, a rotina se assemelha. Rodrigo implantou um chiqueirão há três anos, onde trata cerca de mil porcos quatro vezes por dia (às 6, 10, 14 e 17 horas). “Essa é a rotina, de domingo a domingo”, diz o jovem, que cursou até o terceiro ano de educação física, em Xanxerê. “Parei um tempo, retornei aqui e decidi: vou ficar”.
Moisés concluiu o ensino médio. Por enquanto, não pensa fazer faculdade. Ele quer é ampliar o chiqueirão de 330 animais para mais de 600. A exemplo do empreendimento de Rodrigo, a unidade engorda os animais para o abate. São cerca de quatro meses até que a carga esteja pronta para partir ao frigorífico.
Depois dos meses de trabalho intenso, uns dias de folga até são possíveis. “Eu optei pelo suíno pensando um pouco nisso”, afirma Rodrigo. “A família da minha mulher é de longe, e na bovinocultura de leite são 365 dias por ano [de trabalho]. E já o suíno, quando tem o intervalo, dá para a gente sair e aproveitar um pouco”.
Apoio da família
O apoio dos pais também influenciou na tomada de decisão, além do apego sentimental pela continuidade da história familiar. “É a sequência do trabalho deles. São três gerações já na propriedade. Meu avô trabalhou a vida toda, meu pai, agora eu e espero que meu filho também possa continuar”, estima Rodrigo, que ainda não é pai, mas já planeja o destino da terra.
Mãe de Moisés, Nilce Guidi Belé comemora e apoia a decisão do filho de permanecer na propriedade. A moradora tem 48 anos e é casada já há 25 com Deonir Belé, de 60 anos. “Eu gosto que ele [filho] tenha essa ideia de ficar aqui, porque senão nós vamos fazer o quê aqui sozinho?”, questiona.
Ao lado do marido, depois de amanhecer o dia tomando chimarrão, o destino é tirar leite. Depois ele puxa silagem, ela desinfeta as ordenhadeiras, os dois levam as vacas para o pasto, ele segue em outras lidas e ela vai para casa, onde lava roupa, organiza o lar e prepara o almoço.
Mas a rotina nem sempre foi assim. Nilce tem marcada na memória a época em que o serviço era mais braçal, havia poucas máquinas. “Não existia quase nem veneno para ar nas lavouras, a gente ia carpir o dia inteiro, era bem mais sofrido que agora. E na época do meu pai era muito mais sofrido ainda”, recorda.
Sucessão familiar
Neiva Dalla Vecchia é extensionista da Epagri em Ponte Serrada. As quase quatro décadas de profissão deram a ela o privilégio de ver uma transição de gerações em várias propriedades. A profissional gosta de frisar que não existe agricultura sem jovens e nem sem mulheres, o que considera vital para a sobrevivência da agricultura familiar. “Se eles não ficam, todo o esforço que os pais tiveram numa vida inteira, cai por terra, a história da família acaba morrendo”.
E a Epagri trabalha pela causa. A instituição tem um curso destinado aos jovens rurais, chamado “Ação jovem rural e do mar”, abrangendo também pescadores. Os cursos são oferecidos nos centros de treinamento da Epagri em todo o estado, onde o jovem fica uma semana no local e depois pratica os ensinamentos na própria terra onde vive.
Em Ponte Serrada também já ocorre há quatro anos uma troca de experiências com grupos de jovens rurais. Um encontro por mês, de um dia, é promovido pela Epagri para a abordagem de assuntos ligados à realidade rural do município. O curso ficou suspenso na pandemia, mas o atendimento segue individualmente nas propriedades.
Neiva já acredita haver inclusive um movimento contrário em relação ao ado, com os jovens de agora despertando a cada dia o desejo por permanecer nas propriedades. “A gente já teve muito mais preocupação do que tem hoje. A Epagri tem um tralho muito forte com os jovens e isso criou um movimento muito positivo no rural de Santa Catarina. Eu vislumbro um cenário positivo dos jovens na agricultura”, conclui.
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