Há 45 anos trabalhando como caminhoneiro, ponteserradense fala sobre desafios na profissão dos sonhos u5d16

Mario Sergio Rodrigues começou a dirigir com 18 anos, seguindo a carreira do pai que também era motorista 5f5q1a

Por Kiane Berté 6q1x24

30/06/2023 11h52 - Atualizado em 30/06/2023 12h05 1l4h5c



Mario Sergio nos primeiros anos trabalhando como motorista de caminhão (Fotos: Arquivo pessoal)

A vida na estrada é cheia de aventuras, desafios, alegrias e tristezas. Ser caminhoneiro significa ar por dificuldades, viver longe da família, viajar pelo país e, acima de tudo, ter histórias para contar.  5h3qp

A profissão é uma das pouco valorizadas nos dias atuais, já que é necessário abrir mão de muitas coisas, inclusive do contato diário com a família. Mesmo com os empecilhos, os motoristas não desistem desse trabalho que é tão importante para eles e são homenageados todos os anos, com uma data especial no nosso calendário.

Neste mês, que se comemora o Dia do Caminhoneiro, o ponteserradense Mario Sergio Rodrigues também está completando 45 anos de estrada e 63 anos de vida.

Junto com a data comemorativa, vem as lembranças de toda uma vida que ou dentro de um caminhão, fazendo o que mais gosta.

Mario começou a trabalhar com caminhão em 1978, quando tinha 18 anos. O aprendizado no volante começou muito antes, quando ele ainda era adolescente. Apesar do pai Franklin Rodrigues Neto ser motorista, ele não foi o responsável por ensiná-lo a dirigir, mas foi quem instigou a vontade de seguir na profissão.

“Eu viajava [de carona] com outros caminhoneiros que foram me ensinando os macetes da estrada”, relembra.

Mario Sergio trabalhava como frentista em um posto de combustível e aproveitava para dirigir ali, no pátio do estabelecimento. Logo depois, quando conseguiu a habilitação necessária, caiu na estrada para viver um sonho.

Caminhoneiro de Ponte Serrada está há 45 anos na estrada como motorista (Fotos: Arquivo pessoal)

O motorista recorda dos tempos antigos no volante como uma “época melhor”, por perceber que os caminhoneiros eram mais unidos de alguma forma. Porém, não deixa de ressaltar o quanto as estradas evoluíram de uns tempos para cá, ficando duplicadas e melhorando a transição dos motoristas pelas rodovias.

Outro ponto que Mario acredita que tenha valorizado na vida dos caminheiros é a melhoria dos veículos e o conforto que eles têm para seguir viagem e ar dias, muitas vezes meses, fora de casa, vivendo inteiramente dentro de um caminhão.

“Hoje os motoristas dirigem caminhões que são melhores que muitos automóveis por aí”, observa.

Apesar de ser um trabalho – aos olhos de muitos – cansativo e desgastante, justamente por ar muito tempo sentado e longe de casa, Mario Sergio não deixa de apreciar as coisas boas que a vida de motorista de caminhão proporciona.

“O que eu mais gosto na profissão é a oportunidade que eu tive de conhecer várias cidades, vários lugares, pessoas diferentes, amizades que arrumei por esse mundão nesses 45 anos... Tenho certeza que jamais conheceria se não fosse dessa forma”, menciona.

Entre os muitos obstáculos encontrados na profissão, o ponteserradense não deixa de mencionar os “altos e baixos” em questão de custos, já que o motorista não é tão valorizado quanto deveria. O custo de frete, o aumento do combustível... Essas são coisas pequenas que trazem bastante dor de cabeça para quem precisa viver disso.

Mesmo assim, para Mario Sergio, viver na estrada, cercado de desafios, sempre vai ser um aprendizado.

“Essa profissão me trouxe muito, já que o estudo foi pouco. Aprendi tudo na escola da estrada da vida. Essa profissão não tem pressa pra mim”, avalia.

Mario tem dois filhos: Nathalia, de 26 anos, que trabalha como dentista, e Rodolfo, de 35, advogado formado. Apesar de nenhum dos dois seguir ter se tornado motorista, na profissão que é tão importante para o pai, Mario fala com orgulho que as profissões que os filhos escolheram foi conquistada pelo trabalho duro ao volante.  

Mario na companhia da família (Fotos: Arquivo pessoal)

A estrada também é perigosa

Entre todas as particularidades, momentos bons ao volante, sensação de liberdade, a vida de motorista de caminhão também é regada de momentos bastante tensos.

Lemos muitas histórias de caminhoneiros que foram vítimas de alguma violência, sejam em assaltos ou em outro tipo de situação. Em alguns casos graves, a vítima acaba morta.

No trabalho de Mario Sergio, nesses longos anos de estrada, não foi diferente. Ele recorda, com muita angustia, de um amigo que perdeu a vida para criminosos armados.

Em meados de 1993, Mario jantou na companhia deste outro motorista, em Alagoinhas, na Bahia, e criou um vínculo de amizade com ele. Durante a noite, enquanto dormiam, os assaltantes assam o homem e jogaram o corpo dele embaixo do caminhão de Mario. Depois, fugiram com o veículo da vítima que estava carregado com pneus.

“Essa foi uma das situações que eu jamais vou esquecer. Vou levar para o resto da vida”.

O trabalhador também escapou de um acidente. Enquanto viajava na companhia do filho, no dia 10 de janeiro de 2002, Mario precisou jogar o caminhão para fora da pista para não bater em outro que fazia uma ultraagem proibida na curva, em uma rodovia de General Carneiro, no Paraná.

Apesar do susto que ambos tomaram naquele momento, pai e filho não se feriram no acidente, apenas registraram danos materiais no caminhão. Não foi um acidente considerado grave, mas vai ficar sempre na memória de Mario, porque, naquele dia, Rodolfo estava completando 13 anos. Era aniversário dele.

Por muita sorte, Mario nunca mais precisou se preocupar com acidentes, mas relata já ter presenciado muitos outros, graves, durante suas viagens pelo Brasil. Nunca foi vítima de assalto também, apenas teve a infelicidade de presenciar o caminhão sendo arrombado por bandidos. Mario reconhece que a fé também ajudou.

“Rezo muito e sempre, graças a Deus, fui de muita sorte. Então, acho que é importante também”.

Aquisição de Mario com o suor do trabalho de motorista (Foto: Arquivo pessoal)

Uma vida mais tranquila

Mario Sergio se tornou autônomo em 1997. Antes disso, trabalhou para quatro empresas, transportando cereais, madeira e algodão pelos estados brasileiros, em viagens que demoravam até quatro meses.

Quando sentia falta da família, a única maneira de manter contato era através de orelhões, na época, com fichas. Algum tempo depois chegaram os cartões para facilitar a ligação. Hoje, o motorista a no máximo dois dias fora de casa e o contato com os filhos e a esposa é constante, graças ao celular.

Atualmente, o ponteserradense trabalha com a compra e venda de calcário. Ele transporta grãos das cooperativas para os portos e depois retorna com o cal para as fazendas e lavouras da região Oeste de Santa Catarina.

O contato com a família é maior e as coisas se tornaram mais tranquilas. Porém, mesmo que fosse difícil, Mario Sergio não desistiria tão fácil da profissão, porque é um sonho que ele conquistou e que segue em suas veias.

“Nunca desista do sonho de ter um caminhão, de ser um caminhoneiro. Não é fácil a batalha, mas com fé e trabalho, tenho certeza que vai conseguir. Desejo um feliz Dia do Caminhoneiro a todos”


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