Padre Pablo Cechinato participa de trilhas com motocicleta (Foto: Arquivo pessoal)

Engana-se quem acha que os padres precisam estar obcecados apenas na igreja e não ter nenhuma diversão. Nos dias atuais, os sacerdotes deixam a batina de lado ou vão com ela desfrutar de férias, eios ou simplesmente praticar exercícios físicos. No caso do gaúcho Pablo Cechinato de Lima, de 29 anos, padre diocesano de Vacaria (RS), a diversão se encontra em andar de moto e fazer trilhas com amigos paroquianos e até mesmo com a família. 2y4v57

Residindo e sendo pároco na Paróquia de Cacique Doble, no Rio Grande do Sul, Pe. Pablo é considerado por muitos um “padre moderno”, não só pelo gosto pelo motociclismo, mas também por colecionar mais de 250 mil seguidores nas redes sociais.

No Instagram e TikTok, por exemplo, o número a de 120 mil em cada plataforma.

Dentro das redes sociais, o padre mostra o dia a dia na diocese, os sacramentos, as missas que celebra e também a paixão que tem pelas motos, um amor que surgiu através do pai Itacir Tavares de Lima.

Padre de 29 anos tem público de 130 mil pessoas na internet (Foto: Arquivo pessoal)

Paixão pelo motociclismo

Pe. Pablo sempre gostou de motocicletas porque foi criado sobre elas através do pai Itacir, que faz parte do moto clube Apache's Brasil, de Caxias do Sul (RS).

Na infância a paixão era a bicicleta. Ele costumava pedalar até a escolinha de interior, no campo de futebol da capela e até a igreja em dias de missa, na companhia dos pais e outros três irmãos.

Aos 13 anos, depois de aprender a pilotar com o pai, ganhou a primeira moto, uma Kasinski GF 125. O veículo era usado por ele apenas para se deslocar de casa até pequenas distâncias nas estradas de interior, tanto para jogar bola, trabalhar, quanto para visitar os avós.

Com o ar do tempo e melhores condições financeiras e istrativas, foi se equipando com moto cada vez melhor. Hoje em situação estável, possui uma moto esportiva - uma Ninja ZX6R 600 cilindradas - que inclusive, está sendo rifada aos seguidores na internet. 

Assim como os irmãos, Pe. Pablo sempre gostou de esportes, principalmente coletivos, que envolvem bastante pessoas. Porém, tinha um pouco de “preconceito” com relação às trilhas com motocicletas.

“Eu achava que motos de trilha eram algo extremamente perigosas e eu não gostava até conhecer. Me convidaram para fazer uma experiência, fui meio a contragosto e me apaixonei”, comenta.

Foi durante o isolamento na pandemia que Pe. Pablo se apegou ao mundo “Off Road”. Depois disso, nunca deixou de participar de trilhas com os amigos, especialmente paroquianos, que participavam do moto grupo Fantasmas da Trilha de Cacique Doble.

“Se Deus me conceder a graça de por muitos anos andar, quero aproveitar”.

Entrosado no meio dos motociclistas, Pe. Pablo precisou criar um nome “artístico” para não ser confundido com um amigo que tinha o apelido de “padre”. Esse amigo chegou a ser seminarista capuchinho, mas desistiu no caminho. Porém, o apelido continuou com ele.

Pe. Pablo teve a ideia de nomear suas redes socias como o “O Padre Tá On Off Road”. A inspiração veio na volta de uma das trilhas que percorreu de moto. Segundo ele, ‘O Padre Tá On’ foi mais bem aceito pelas pessoas.

Como precisa celebrar as missas dominicais, o único dia em que consegue se juntar aos amigos trilheiros é no sábado à tarde, desde que planejado com razoável antecedência, pois a agenda da paróquia - que possui 19 comunidades que reza missa mensalmente - é bem exigente.

Mas, em raras ocasiões, somente quando é substituído por outro padre de comunidades vizinhas.

“É satisfatório tu ter uma paixão que é andar de moto com os teus amigos, porque faz bem”, enaltece, frisando a importância do uso dos equipamentos para realizar o esporte.

Sacerdote compartilha o dia a dia nas redes sociais (Foto: Arquivo pessoal)

Família religiosa

Pe. Pablo foi criado desde pequeno dentro da igreja católica. Com pais religiosos, sempre frequentava as missas da comunidade Nossa Senhora da Saúde, onde foi criado, na cidade de Campestre da Serra (RS), mas segundo ele, não tinha muita paciência de estar no ambiente, já que era uma criança bastante hiperativa.

Nas celebrações que assistia pela televisão, em casa, as crianças vestidas de vermelho no altar chamavam a atenção.

Quando ficou sabendo que se tratava de “coroinhas” – crianças que auxiliam o padre e o povo nas ações litúrgicas –, decidiu que gostaria assumir o mesmo ministério.

Na missa seguinte, foi correndo para até a sacristia da Igreja onde estava o padre se preparando para iniciar a missa, para contar que se tornaria ajudante. Ele foi recebido de maneira bem positiva. O pároco da época providenciou uma veste para ele e ali se iniciava uma aproximação ainda maior com Deus, aos 11 anos de idade.

“Essa foi a experiência de me sentir, pela primeira vez, membro da Igreja. Eu tinha algo para fazer e ser nela. Eu servia outras pessoas. E eu fui coroinha”, comenta.

Além de ter atuado como coroinha na comunidade de Nossa Senhora da Saúde, ele também fazia questão de atuar nas comunidades São Roque e São Manuel, na mesma cidade.

“Deus chama. Ele coloca uma semente no coração da gente, uma inquietação de nos perguntarmos o que quero fazer da minha vida. A resposta que eu encontrei foi ‘por que não ser padre?’”.

Dali em diante, se envolveu cada vez mais com a igreja. Participou de encontros vocacionais, seminários e se especializou nas graduações de Filosofia e Teologia. Pablo também trabalhou em cinco paróquias, acompanhando padres locais como seminarista e diácono, até se ordenar padre na terra natal, em Campestre da Serra (RS), em agosto de 2019.

Apesar de apenas Pablo ter seguido a vocação, os pais e os irmãos também são envolvidos de alguma forma com a Igreja Católica, seja ajudando na liturgia em dias de missa na comunidade ou em promoções que necessitem de lideranças voluntárias.

Padre Pablo Cechinato é bastante ativo nas redes sociais (Fotos: Arquivo pessoal)

Redes sociais crescendo em números

“O Padre Tá On” na internet ganhou uma proporção inimaginável. Pe. Pablo ou a divulgar vídeos mostrando parte de suas celebrações e as aventuras nas trilhas e nas estradas sobre duas rodas. Com o ar do tempo, percebeu que já havia conquistado um grande público nas redes sociais.  

“A coisa na internet foi deslanchando de uma forma que em questão de meses, semanas. Foi aumentando significativamente o número de seguidores, amigos e fãs”, menciona.

No perfil do TikTok, o padre já alcançou 2 milhões de visualizações em um recente vídeo, onde aparece ao lado do pai, em cima de uma moto Harley-Davidson (clique aqui para assistir).

Já no Instagram, onde possui um número maior de seguidores, o vídeo com maior alcance possui 1,7 milhão de visualizações. Neste, Pablo mostra a realidade dos “padres trilheiros” em dia de missa, usando túnica, estola e casula, sobre a roupa de trilha (clique aqui para assistir).

“Vou rezar a missa e depois me vou para a trilha. ‘Boto’ as botas, tiro o sapato social... Mas agora vou de padre”, comenta ao mostrar os trajes por baixo da veste sacra.

O Padre Tá On também trabalha nas redes sociais com divulgação de trilhas que acontecem na região, além de produzir vídeos para os trilheiros e vender rifa para viabilizar o esporte que, conforme ele, é caro.

O padre ainda é envolvido com causas sociais. Junto com os motociclistas que conhece, realizava campanhas de arrecadação em dia de evento de trilha e destina os valores para o Corpo de Bombeiros, hospitais da região e para pessoas que am por necessidades.

“Há muita caridade também nesse mundo da trilha”, diz Pablo.

"Pais, deixem seus filhos comprarem uma moto de trilha, que eles não terão dinheiro para gastar com vícios, pois não sobra nada. Além disso irão trabalhar contentes na semana toda para poder fazer uma trilha fim de semana”, comenta o padre em um dos vídeos postados.