Com duas guerras em andamento no mundo (Rússia x Ucrânia e Israel x Palestina), desempenho fraco das grandes economias globais e juros elevados, os pesquisadores e analistas do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa (CILeite) não demonstram otimismo para a cadeia láctea em 2024. 3s3548
O analista José Luiz Bellini acredita que este será um ano desafiador para produtores e laticínios. “Depois de um ano difícil, 2024 ainda não será o ano da recuperação e continuaremos observando a exclusão de produtores menos eficientes e de pequenos laticínios, como tem ocorrido nos últimos anos”, lamenta Bellini.
O recuo das importações chinesas tem mantido os preços internacionais estáveis, mas abaixo da média histórica. Mas se o cenário internacional é motivo de preocupação, o ambiente interno traz notícias positivas. O crescimento do PIB em 2023 desafiou as previsões iniciais de 0,5% e superou a marca dos 3%.
A inflação está controlada e o desemprego, em queda. “No entanto, esse bom desempenho da economia ainda não repercutiu na cadeia produtiva e o consumo de lácteos continua baixo”, argumenta o pesquisador Glauco Carvalho. A edição de dezembro do CILeite aponta que a fraca demanda interna também é um dos fatores que comprometem a rentabilidade dos produtores.
“Em vários estados, pequenos produtores estão recebendo menos de R$1,80 pelo litro de leite, o que é insuficiente para remunerar a produção”, avalia Carvalho. Desde julho do ano ado, a relação de troca do produtor é menor que a média dos últimos sete anos. A consequência da baixa rentabilidade dos produtores é o desestimulo à produção. Já há alguns anos, o volume de leite produzido no Brasil está estagnado em 34 bilhões de litros anuais.
Um fator que também contribuiu para descapitalizar o produtor foi o grande volume de importações ocorridas no ano ado, principalmente no período da entressafra, quando o preço do leite ao produtor fica mais atrativo.
“A queda da produção na entressafra foi suprida pelas importações, aumentando a oferta de leite no mercado”, diz Bellini. O analista informa que até setembro do ano ado o volume de leite produzido pelo Brasil cresceu 1,4% em relação ao mesmo período de 2022 e a oferta de leite per capita subiu 5,3% por conta das importações, que superaram dois bilhões de litros de leite equivalente ao longo do ano.
“Mesmo com a desvalorização do leite nacional, as importações se mantiveram motivadas pela grande competitividade externa”, diz Carvalho. Enquanto o preço médio do litro de leite no Brasil está a 39 centavos de dólar, o leite argentino custa 35 centavos de dólar e o uruguaio, 36.
O CILeite aponta que a pressão das importações fez com que os principais derivados lácteos no mercado atacadista nacional registrassem desvalorização de preços ao longo do ano. No leite UHT, as cotações caíram 18,6% de maio a novembro chegando a R3,76/litro. Na muçarela a queda foi de 15,6%, chegando a R$26,88, no mesmo período.
Inovação
De acordo com a Embrapa, em questionamento aos pesquisadores e analistas do CILeite o que produtores e laticínios devem fazer para enfrentar um ano que se anuncia difícil, eles sugeriram criatividade e diversificação. A produção de leite artesanal, por exemplo, está em ascensão e pode ser uma saída para muitos produtores.
O Analista Lorildo Stock, por sua vez, disse que o produtor precisa se especializar. “A atividade leiteira é complexa e permite fragmentar a produção em setores como volumosos, recria de animais e leite. Pode ser que o pecuarista tenha maior vocação em alguma dessas áreas e ao se especializar, otimiza a produção”.
Quanto à indústria, a pesquisadora Kennya Siqueira diz que os laticínios devem diversificar seus produtos de acordo com a tendência do consumo, que aponta para alimentos saudáveis, funcionais e sustentáveis.