Cirurgia inédita realizada em Goiânia usa estimulação cerebral para tratamento de obesidade 1o6f5i

Paciente de 38 anos e 183 kg foi o primeiro a ar pela operação, nova na América Latina. 64h1f

Por Redação Oeste Mais 6m5y3i

20/03/2025 16h28 - Atualizado em 20/03/2025 16h31 182m72



O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), istrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), realizou na terça-feira, dia 18, uma cirurgia inédita no Brasil e na América Latina, usando a estimulação cerebral profunda bilateral do núcleo accumbens para o tratamento de obesidade mórbida (grau III). t6y2f

O núcleo accumbens é uma região do cérebro que está relacionada a recompensa, prazer, vícios, medo, entre outros. “A obesidade é uma doença, usualmente gerada por uma compulsão, então fizemos um projeto objetivando atuar justamente nesses circuitos cerebrais associados a recompensa e prazer”, explica o neurocirurgião do HC-UFG, Osvaldo Vilela.

Importante salientar que a cirurgia faz parte de um projeto de pesquisa, que visa analisar a efetividade do procedimento e qual a melhor maneira de realizá-lo. A cirurgia é experimental e não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

O primeiro paciente foi o ajustador de granito Ivan dos Santos Araújo, de 38 anos, natural de Goiânia, e que atualmente pesa 183 quilos.

Ivan conta que começou a ganhar peso aos nove anos de idade e que já fez tratamentos com nutricionistas e endocrinologistas. Em 2015, após um acidente, ele não conseguiu mais perder peso.

“Por ter que ficar parado demais, não poder me exercitar, eu não conseguia perder peso. E a obesidade atrapalha a vida em todos os aspectos, atrapalha andar, fazer qualquer coisa do dia a dia normal de uma pessoa”, desabafa.

O paciente comenta que, no início, ficou receoso, por se tratar de uma cirurgia inédita, mas que depois de pesquisar muito e conversar com os profissionais do hospital, ficou mais confiante.

Parceria internacional

A cirurgia inédita é uma parceria do HC-UFG com a Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. A equipe de profissionais do HC-UFG realizou diversas reuniões online com os pesquisadores da Pensilvânia para definir qual a melhor maneira de chegar no núcleo accumbens e onde implantar os eletrodos.

“A Universidade da Pensilvânia é uma das universidades que fazem parte da Ivy League, uma das mais importantes nos Estados Unidos. E lá nós temos um colega, Casey Halpern, e o grupo dele também está começando a tocar um projeto similar, mas num grupo específico de obesidade, então resolvemos fazer um estudo colaborativo”, explica o neurocirurgião Osvaldo Vilela.

Projeto

Pesquisadores do HC e da UFG começaram a escrever, em 2017, um projeto sobre cirurgia cerebral para obesidade, que seria para a implantação de eletrodos, um de cada lado do cérebro, para o tratamento da obesidade mórbida.

“Tem um grupo de pacientes que não respondem nem a tratamento com dieta, psicoterapia e atividades físicas. Esses pacientes que não respondem são candidatos à cirurgia. A cirurgia convencional é a cirurgia bariátrica, mas, em muitos casos – pelo menos 15 a 20% dos casos –, a cirurgia bariátrica não funciona”, afirma Vilela.

O especialista explica que dentro do cérebro há uma estrutura chamada hipotálamo, que possui dois centros importantes: um que é o centro da fome e o outro que é o centro da saciedade. Quando o centro da fome é ativado, a pessoa come. Quando o centro da saciedade é ativado, a pessoa para de comer.

Em pesquisas realizadas no Brasil e em outros países, tentaram implantar eletrodos ou no centro da fome ou no centro da saciedade para inibir um e ativar o outro, tratando a obesidade.

“Todos nós temos isso, a hora de comer e a hora de parar de comer. Mas obesidade não é isso, obesidade é uma doença, é uma compulsão alimentar. Por isso essas tentativas se provaram inadequadas. Então pensamos: já que isso é uma compulsão alimentar, por que não atuamos naqueles centros relacionados a recompensa e prazer. Aí surgiu a ideia desse projeto de pesquisa”, detalha o médico.

Prazer e recompensa

O núcleo accumbens tem duas partes. Uma parte central, que é chamada Core, que tem envolvimento em funções motoras. E uma parte periférica, denominada Shell, que está envolvida em funções límbicas, ou seja, relacionadas aos comportamentos emocionais.

“É nesse Shell do núcleo accumbens que nós vamos implantar o eletrodo. Após a cirurgia, esse paciente será acompanhado por dois anos. Nos primeiros dois ou três meses, nós vamos testar os vários polos do eletrodo para ver aquele que tem uma atuação mais adequada. Depois disso, nós começamos a fase que chamamos de fechada, ou duplo cego do estudo. Aí nós podemos ativar o eletrodo de um lado só, dos dois lados, do outro lado ou nenhum eletrodo”, explica.

“Em cada jeito desse, o paciente fica com ele dois meses. Terminada essa fase fechada vemos qual deu o melhor resultado e vamos manter o restante do período. Então, vocês vão testar para ver qual a melhor opção, porque nós não sabemos. Isso é um projeto de pesquisa”, conclui Vilela.

Os cinco pacientes que participarão do projeto serão acompanhados pela equipe de neurocirurgia e endocrinologia do HC-UFG durante dois anos.


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