Para muitas mulheres, não importa o quanto cuidem da alimentação ou mantenham uma rotina de exercícios: as pernas continuam inchadas, doloridas e marcadas por celulite acentuada. O que poucas sabem é que esses sinais podem indicar uma condição crônica chamada lipedema, que afeta desproporcionalmente o corpo feminino e compromete a qualidade de vida de milhões. Felizmente, técnicas como a drenagem linfática manual têm ganhado destaque no alívio dos sintomas dessa doença ainda pouco diagnosticada. 481b4h
Segundo dados da ONG Movimento Lipedema, mais de 10 milhões de brasileiras convivem com a condição. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o lipedema como doença em 2019 e o incluiu oficialmente na Classificação Internacional de Doenças (CID) três anos depois. Apesar disso, muitas pacientes ainda enfrentam longos períodos até o diagnóstico correto, já que o lipedema costuma ser confundido com obesidade comum. Nesse contexto, o papel dos profissionais de massoterapia se fortalece como parte essencial no cuidado multidisciplinar.
O que é o lipedema
Diferente da obesidade, que distribui a gordura corporal de forma mais uniforme, o lipedema é uma doença vascular crônica que afeta partes específicas do corpo, principalmente pernas, quadris e braços. As extremidades como mãos e pés costumam ser poupadas. Uma das marcas da condição é o surgimento de nódulos inflamados sob a pele, que podem causar dor, inchaço e comprometer o sistema linfático.
De acordo com o cirurgião plástico Fábio Kamamoto, é comum encontrar mulheres saudáveis e ativas que se frustram por não ver resultados estéticos, mesmo com alimentação equilibrada e prática regular de atividades físicas. Isso porque a gordura associada ao lipedema — geralmente endurecida e com aparência de “casca de laranja” — não responde aos métodos tradicionais de emagrecimento.
Muito além da estética
Embora a celulite seja um dos sinais mais visíveis, os sintomas do lipedema vão muito além da aparência. A Revista Científica de Estética & Cosmetologia descreve nódulos palpáveis e alterações na textura da pele que diferem da celulite comum por sua intensidade e extensão.
O Instituto Vencer o Câncer também destaca sintomas incapacitantes, como dor constante, sensibilidade ao toque, sensação de peso nas pernas, inchaço persistente e, nos casos mais graves, dificuldade para caminhar. Tudo isso interfere diretamente na mobilidade e no bem-estar emocional das pacientes.
Tratamentos possíveis e o papel da drenagem linfática
O tratamento do lipedema requer uma abordagem ampla e multidisciplinar, com a participação de cirurgiões vasculares, dermatologistas, fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas e psicólogos. Um dos recursos mais utilizados é a drenagem linfática manual, aplicada semanalmente por massagistas profissionais, e frequentemente associada ao uso de meias compressivas.
A fisioterapia personalizada, focada na melhora da circulação e da mobilidade, e o acompanhamento nutricional, voltado à redução de processos inflamatórios, também são pilares do protocolo. Além disso, muitas pacientes se beneficiam de orientações educativas para reconhecerem sinais do corpo e adotarem hábitos que favorecem o controle da doença.
Um exemplo promissor foi documentado pela pesquisadora Lidiane Pereira da Rocha, que combinou três técnicas em uma sessão: laser intravascular (ILIB), drenagem linfática manual e fitoterápicos tópicos. O resultado foi uma redução significativa da dor — de 6 para 3 na escala de avaliação — em uma paciente com lipedema grau II.
Precisão profissional faz toda a diferença
O mesmo estudo reforça a importância de aplicar as técnicas com precisão. A pressão da drenagem, por exemplo, foi rigorosamente mantida em 45 mmHg, iniciando-se na região dos linfonodos inguinais até os pés. Esse nível de precisão explica por que profissionais de drenagem linfática especializados são essenciais. Em pacientes com lipedema, os capilares linfáticos já estão comprometidos. Uma pressão mal calculada, um movimento brusco pode fazer o que deveria aliviar, na verdade, piorar o quadro.
A paciente atendida teve redução visível em regiões como culote, coxas e panturrilhas após uma única sessão, além de melhora no aspecto da pele e diminuição do edema. Ainda assim, os próprios autores do estudo alertam: são necessários mais ensaios com maior número de participantes para validar os resultados.
É essencial também considerar as contraindicações. Pacientes com problemas vasculares, hipertensão descompensada ou insuficiência cardíaca devem ar por avaliação médica antes de iniciar qualquer tipo de tratamento com drenagem.